sábado, 14 de abril de 2012

Apneia do sono um mal que atinge grande parte da população


Cansaço, fadiga, falta de ânimo, estresse e sono agitado podem ser resultados de um problema que atinge dois a cada três homens e uma a cada três mulheres entre 35 e 60 anos, a apneia do sono. A doença é caracterizada pela dificuldade de respiração enquanto se dorme e está classificada entre os distúrbios do sono. A apneia possui diversas causas. O otorrinolaringologista da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, Ricardo Valadares afirma que uma delas é a própria vida na cidade, que nos causa estresse. Depois tem as questões comportamentais do ser humano e ainda má alimentação e obesidade.

A estimativa é de que 80% dos homens e 90% das mulheres que possuem a doença ainda não foram diagnosticados, o que é muito preocupante, segundo o otorrinolaringologista. Para o médico, a primeira grande dificuldade do diagnóstico está relacionada ao fato de que o paciente não tem como perceber alguns sintomas que acontecem durante o período do sono. “É evidente que a pessoa não vai conseguir perceber que tem paradas na respiração enquanto dorme ou que ronca alto demais. A grande parte dos roncadores têm apneia. Na maioria dos casos, eles (os pacientes) são avisados por companheiros e filhos. Mas ainda há o problema deles duvidarem da acusação”, explica Ricardo.

A professora aposentada, Terezinha Solange de Almeida, 59 anos, foi uma dessas pessoas. O marido e a filha já haviam alertado sobre o ronco alto. No entanto, foi preciso uma parada cardiorrespiratória, em 2008, para que ela descobrisse a doença. “Eles sempre falavam que eu roncava alto demais. Isso preocupava minha filha. Só descobri a apneia do sono depois da parada. O médico, então, indicou que eu deveria fazer o exame, já que eu tinha alguns sintomas”, explica.

Além do ronco, Terezinha sempre teve um sono conturbado, dormia cerca de quatro horas e estava sempre cansada. Além disso, ela é hipertensa, está um pouco acima do peso e ainda tinha um quadro de depressão. “Eu sentia um tremendo cansaço e buscava uma disposição que não tinha”, completa a professora.

O médico Ricardo Valadares informa que isso é normal para os pacientes de apneia do sono. “O cansaço está entre os sintomas junto com o ronco, sonolência, fadiga, estresse, sono agitado, a necessidade repetitiva de ir ao banheiro durante a noite, sensação de irritabilidade, excessiva transpiração, acordar assustado, engasgado ou até asfixiado. É porque o paciente dormiu, mas não descansou. É uma situação de estresse intenso. Dormir para o paciente se torna estressante”, diz o otorrinolaringologista.

Mas a professora viu sua vida mudar depois do diagnóstico. Ela fez um exame em que o paciente precisa dormir em uma clínica para que as alterações durante o sono possam ser identificadas pelos médicos. O exame apontou que Terezinha de Almeida tem até 62 paradas respiratórias enquanto dorme. O tratamento indicado foi a utilização do CPAP um aparelho que bombeia ar no nariz do paciente. “O aparelho não é confortável, mas a pessoa não pode se limitar na questão da saúde. Desde que comecei a usar minha vida mudou. Encontrei uma energia que não tinha antes. Agora sou uma pessoa muito vital”, comemora a professora.

Diagnóstico
O conhecimento da existência da doença pode garantir uma diminuição no número de derrames, paradas cardiorrespiratórias, hipertensão, surtos de diabetes e até arritmias. De acordo com o médico Ricardo Valadares, a apneia está entre uma das grandes causadoras desses desdobramentos. “Boa parte das alterações no organismo estão relacionadas com a baixa oxigenação dos pacientes”, garante.

Segundo ele, há duas formas de diagnosticar a doença. A primeira por uma avaliação da via aérea pela endoscopia nasal. A segunda é feita pela polisonografia que é uma verificação do sono, que foi a técnica utilizada por Terezinha para descobrir a apneia. Nesse exame, o paciente precisa chegar às 20h e tomar um remédio para dormir. Todo tipo de alteração será avaliado durante essa polisonografia. No entanto, o médico aponta para um problema no Distrito Federal. Atualmente, apenas clínicas particulares possuem leitos para o exame. No Hospital Universitário de Brasília (HUB), que não integra a rede pública de saúde, há três leitos disponíveis para o diagnóstico de pacientes mais carentes.

Atualmente a medicina do sono não é uma especialidade da saúde. Os estudos sobre o sono são recentes e datam da década de 80. Os pacientes podem identificar a possibilidade de estar com doença por meio de consultas com especialistas de otorrinolaringologia, pediatria, neurologia, cardiologia, pneumologia, entre outros. Para Ricardo isso não é negativo. “Se fossemos pensar que a medicina do sono fosse uma especialidade, a quantidade de médicos para o tratamento seria bem menor do que temos atualmente. Os distúrbios do sono acabam sendo uma característica multidisciplinar. O paciente pode procurar o médico por estar incomodado com o ronco, outro já por conta do cansaço excessivo. Imagina juntar todos em uma única especialidade?”, questiona.

Tratamento
Há três de formas controlar a doença, que vão depender do paciente e de suas peculiaridades em relação a doença. O tratamento cirúrgico que pode ser para pessoas com desvios no septo, adenóide, amídala ou qualquer distúrbio relativo ao esqueleto da face, como maxilar e mandíbula.

Depois há os tratamentos com aparelhos. O intra-bucal que é utilizado por pacientes com apneia classificada como leve ou moderada e não têm doenças associadas, como pressão alta, diabetes, obesidade, entre outras. É um componente que pressiona os dentes e traz a língua para frente fazendo com que haja espaço para o ar passar.

Já para os demais casos o que costuma ser o mais indicado é o CPAP. Uma máscara utilizada pelo paciente durante o sono que é capaz de bombear oxigênio no nariz e em alguns casos possui uma peça para fechar a boca da pessoa. O único problema é que o CPAP custa em média de R$ 2 mil a R$ 5 mil. “Isso se torna caro para uma população que ganha um salário mínimo. Não é um tratamento barato, mas em termos de saúde pública é essencial, pois diminuiria a quantidade de pessoas infartadas, com derrames, etc. Não há nenhum programa do governo nesse sentido. O custo de um paciente com derrame no leito do hospital é equivalente a um aparelho do CPAP. Imagina aqueles que ficam de 15 a 20 dias. Seria possível comprar diversos aparelhos”, afirma Ricardo Valadares. O alto custo também é uma coisa que preocupa a professora Terezinha. “Penso muito na dificuldade dos outros. Eu posso pagar, mas e os outros?”, lamenta.

Apneia Infantil
A doença é mais comum em pessoas entre 35 e 60 anos. As mulheres, principalmente, depois da menopausa a partir dos 40 anos. No entanto, Ricardo Valadares alerta que a apneia também pode ser diagnosticada em crianças.

No caso das crianças, a apneia está relacionada, em sua grande parte, com a adenóide e amídala. Para identificar nos pequenos é preciso atenção dos pais e pediatras. Ricardo aponta que crianças hiperativas, com sonos perturbados, desatentas, com bruxismo, ronco e dificuldade de aprendizado na escola podem estar com o distúrbio do sono.


SINTOMAS
* Ronco alto;
* Sono conturbado;
* Insônia;
* Inquietação;
* Sensação de irritabilidade;
* Acordar com uma dor de cabeça que nunca passa;
* Cansaço;
* Fadiga;
* Falta de ânimo;
* Estresse;
* Sonolência durante o dia;
* Levantar várias vezes durante a noite para ir ao banheiro;
* Suor excessivo durante o sono;
* Acordar engasgando, assustado ou asfixiado;
* Mau humor.

DOENÇAS RELACIONADAS
* Arritmia cardíaca;
* Hipertensão;
* Diabetes;
* AVC;
* Obesidade.

FORMAS DE TRATAMENTO
* Cirúrgico;
* Intra-bucal: É um componente que pressiona os dentes e traz a língua para frente fazendo com que aja espaço para o ar passar. Lembra o aparelho para tratamento de bruxismo (ranger de dentes).
* CPAP: Aparelho ligado a tomada que capta o ar e passa por um tubo até o nariz do paciente. Alguns possuem um mecanismo capaz de fechar a boca do paciente.

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