domingo, 2 de agosto de 2009

Navegando pelo Jazz



Amy Winehouse é conhecida pelos escândalos de sua vida pessoal. Mas, o que muitas pessoas não imaginam é que a cantora é uma das responsáveis a trazer o ritmo musical pouco difundido às massas aos dias de hoje e aos ouvidos dos mais jovens. Quando escutam a voz rouca de Amy e estilo de suas músicas completamente distintos, não se imagina que a interpréte foi influenciada por grandes nomes do jazz das décadas de 20 e 30.

O jazz é considerado pela grande massa um ritmo feito apenas para as elites. As pessoas desconhecem as origens dele ou até a sua própria existência. Mas, é um dos responsáveis por músicas como as de Amy, por improvisações feita pelos músicos das bandas de rock e pelos scats (técnica que consiste em cantarolar sílabas soltas tornando a voz em instrumento).

O gênero não é difundido por ser considerado inacessível, porém, o jazz é acessível a qualquer um que esteja disposto a navegar por águas desconhecidas ou que ainda seja um grande apreciador de música. Alguns estilos de jazz são mais complexos, como o "Bebop", pela falta de apelo visual e das letras das canções que perdem espaço para as improvisações.

Diferente do que se pensa, a origem do jazz não vem das classes altas, e sim, da cultura negra. Os escravos africanos imitavam as danças tradicionais dos brancos - polcas, valsas e quadrilhas - de modo a ridicularizar e misturavam ainda com o que conheciam. Em 1740, os tambores foram proibidos no sul dos Estados Unidos, dessa forma, os negros se viram obrigados a recorrer a outras formas de som. Então, no século XX, essas danças começaram a tomar conta dos salões dos "brancos", dos palcos e da Broadway, transformando-se na comédia musical, que nada mais é do que jazz.

As primeiras gravações datam de 1920 e 1930, porém, o ritmo manteve força até as décadas de 70 e 80. Atualmente, ainda contamos com artistas que mantêm a corrente viva, como por exemplo, da nova geração, Jamie Cullum, Norah Jones, Diana Krall e um dos grandes nomes ainda vivo do jazz, Herbie Hancock.

O ritmo é dividido em várias fases. A primeira, "Early Jazz", se caracteriza por uma improvisação coletiva, onde os grupos improvisam dentro da estrutura harmônica da música. Esses grupos ficaram conhecidos como "Dixieland" ou "New Orleans Jazz", uma referência a cidade que teve papel no desenvolvimento do estilo. Nessa fase, surgiu o scat, creditado a Louis Armstrong. A partir daí, se tornou uma técnica muito utilizada no jazz e nos dias de hoje. Por exemplo, no Brasil, podemos observar o uso de scats por músicos de outros estilos, como Mallu Magalhães e Ed Motta.

Nos anos 20, apareceram as orquestras e o primeiro estilo de piano, que afetariam o futuro do jazz. No piano, as mãos esquerdas eram obrigadas a definir a pulsação rítmica. É esse estilo de toque ao piano que foi herdado por um artista considerado de jazz, Jamie Cullum. Novamente, Louis Armstrong, que aparece desenvolvendo um grupo "Fletcher Henderson", serviu de suporte para a era do Swing e Big Bands. As grandes bandas foram responsáveis pela revelação de nomes como Ella Fitzgerald e Billie Holiday.

O "Bebop", como citado no começo, surgiu em 1940, e é considerado o marco do jazz moderno. Sendo resultado dos pequenos grupos de Swing, mas, dando ênfase à técnica e à harmonia e opondo-se às melodias cantáveis. Pela falta de letras, considerei o mais difícil de apreciação dos iniciantes por não encontrar referências na indústria musical atualmente. Charlie "Bird" Parker, saxofonista, e o trompetista Dizzy Gillepsie, com as gravações em quarteto e quinteto, são os fundadores dessa era.

As composições dessa época não tinham intenção de ser dançantes e por isso se diferenciavam da música popular. Logo, se tornaram mais rápidas e com sequências mais difíceis. Os músicas tocavam o tema, geralmente todos juntos, depois revezavam tocando solos, o que, mais tarde, seria uma herança para as bandas de rock. Os filhos do "Bebop" mais conhecidos são o saxofonista Miles Davis e o baixista Charles Mingus.

A terceira fase, o "Cool Jazz", foi uma espécie de reação aos ritmos acelerados e complexos. Nesse estilo, os grupos não contam com o piano, mas com a harmonização entre os instrumentos de sopro. Embora Miles Davis seja considerado filho do estilo anterior, foi uma grande influenciador do "Cool Jazz", por meio da banda "The Birth Of The Cool".

Nos anos 50, desenvolveu-se como extensão do "Bebop" ou uma revolta ao "Cool Jazz", o "Hard Bop". O estilo sofreu forte influência do blues e do gospel, mantendo a pulsação rítmica e a intensidade. O mais conhecido grupo dessa fase foi "Art Blakey And The Jazz Messengers".

No final dos anos 50, começo dos anos 60, surgiu o Pós-bop ou moderno jazz mainstreim. Nesse período, Miles Davis teve quatro grupos importantes, aperfeiçoando seu modo de tocar. Outros gigantes desse período são John Coltrane, como um dos mais emocionantes músicos, e Charles Mingus.

Durante a mesma época, alguns músicos exploraram outras direções com o "Free Jazz" e Vanguarda. As tradições em harmonia, melodia e ritmo foram abandonadas. Os pioneiros do movimento são o saxofonista Ornette Coleman e o trompetista Don Cherry.

No final dos anos 60, novamente aparece um dos maiores nomes do jazz, Miles Davis. Ele é responsável pela promoção do "Fusion", que era uma fusão do jazz com o rock. Miles ainda trouxe equipamentos eletrônicos e elementos do funk às músicas.

Agora, que já conhecemos o jazz, pode-se perceber que em geral a dificuldade sentida pelos principiantes está exatamente no marco do gênero, na improvisação. Como citado, há improvisão no rock também, além do blues e da música erudita. Mas não da mesma forma; os músicos criam grande parte da música na base do improviso. Sem a improvisação, não é possível fazer jazz.

O importante é entender que, no jazz, os músicos interagem entre si, como em uma espécie de conversa. O saxofonista Lester Young disse uma vez: "Você precisa contar uma história". E é exatamente isso, é uma forma semelhante de linguagem.

Além de que depois que você navegar na onda do jazz, vai descobrir que conhece mais músicas do que imagina. Por exemplo, é impossível nunca ter escutdo "What a Wonderful World", de Louis Armstrong, ou "Blue Moon", de Ella Fitzgerald, que foram trilhas sonoras de filmes e novelas.

Confesso que para um principiante como eu, sinto necessidade das letras. Só que não seja por isso, temos Nat King Cole, Louis Armstrong, Billie Holiday, Ella Fitzgerald. Além dos novos talentos, Jamie Cullum, Amy Winehouse, Norah Jones, Corinne Bailey Rae, Diana Krall, entre outros.

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