
' verás que um filho teu não foge a luta '
Você insiste em aparecer na minha vida. É constante nos livros, nos textos e até em meus pensamentos. Por que você não me dá um descanso? Tenho sentido que você quer me prender a este seu jeito certinho que segue todas as regras. Pois eu não sou assim, não gosto de ordens, e muito menos de responder suas perguntas de sempre. Peço que me dê um tempo, que me dê um pouco de liberdade para fazer o que eu bem entender.
Não sei por que você insiste que todos devem agir como você quer. Você é muito egocêntrico, só porque é conhecido e requisitado. Deve achar que é o mais belo modelo para os outros, mas fique sabendo que não é. Alguns lhe acham maravilhoso, mas, outros, pensam que você não é criativo, que cansa, que acaba tornando tudo completamente igual.
Tudo bem, admito, você é claro, dá todas as informações logo de cara. Só que no fundo, você é um saco, completamente previsível. Creio que não deva gostar de um mistério. Sinceramente, espero que você vá passear por uns tempos por outros caminhos. Que mude de ramo, que dê um tempinho das páginas de jornal.
Até você querido lead, deve estar cansado das suas mesmices.
O livro de Augusto Cury mistura uma reflexão socióloga e religiosa. Submete o leitor a um mundo pouco explorado, o da psique humana. A forma se deve ao acompanhamento da história de um vendedor de sonhos, que confunde mentes por onde passa.
A história é narrada por Júlio César, um renomado professor que reencontra o sentido da vida com a ajuda de seu futuro mestre, que o impede de cometer suicídio. O vendedor de sonhos expõe o sistema em que vive a sociedade e os males causados por ele. Ao decorrer da obra o vendedor acumula discípulos – alguns o seguindo ao longo da caminhada – e também desafetos, como a grandiosa empresa Megasoft.
Augusto utiliza um contexto atual e tocante a qualquer leitor. É impossível chegar ao meio de “O Vendedor de Sonhos” e não ter se perguntado se realmente vivemos em um manicômio global, como sugere o personagem principal.
O ano de 1968 simboliza a utopia de uma geração que lutava por seus direitos. Entre os tantos acontecimentos que marcaram
A vida dos negros nas décadas de 50 e 60 nos Estados Unidos não era fácil, eles sofriam com a pobreza, a desigualdade, a discriminação, o racismo e principalmente com as Leis de Segregação Racial: que negavam aos cidadãos não-brancos toda uma série de direitos. Em 1963, John F. Kennedy assinou a Lei dos Direitos Civis, no entanto, não seria mais que uma mera formalização do Estado para engolir o movimento negro.
Após o falecimento de King, os jovens negros sublevaram-se em mais de 100 cidades
O partido negro revolucionário estadunidense, fundado em 1968, ficou conhecido como “Panteras Negras”, tinha como finalidade original patrulhar os guetos para proteger os residentes dos atos de brutalidade da polícia. Os panteras se tornaram mundialmente conhecidos nos Jogos Olímpicos da Cidade do México. Tommie Smith e John Carlos, atletas medalhistas dos EUA, fizeram a saudação “black power” durante a cerimônia de premiação e foram banidos pelo Comitê Olímpico. Mas, foi o pacifismo de King que sensibilizou de verdade os americanos. Pouco depois de sua morte, a Suprema Corte declarou que qualquer tipo de segregação era contrária à Constituição do país.
O comportamento da geração de 68, permitiu a ascensão de negros, a posição de destaque nos Estados Unidos e no mundo. “Se há empresários negros bem sucedidos, apresentadores de televisão de sucesso ou esportistas idolatrados, é porque as pessoas iam às ruas gritar contra a discriminação” diz o historiador Green.
O senador negro, Barack Obama que concorre à presidência dos Estados Unidos, é o mais recente exemplo da ascensão dos negros. O país viu nascer não apenas um dos mais bem-sucedidos políticos negros, mas um novo líder nacional. Obama em 1997, no seu primeiro cargo eletivo, devia seus votos à comunidade negra de Chicago, onde desde anos 80, trabalhava na defesa dos direitos civis. Mesmo se não vencer a eleição, será considerado um vencedor.
No Brasil, o movimento negro praticamente não existia no ano de
Embora a Lei de Segregação Racial não exista mais nos Estados Unidos e apesar de ser comum escutar que no Brasil já não exista mais racismo, até hoje os negros continuam sofrendo discriminação em diversos setores da sociedade.
Mesmo depois de quarenta anos, que não enterremos as conquistas que o movimento negro trouxe aos dias de hoje; e que o sonho de King não seja apenas sonho, que perdure na realidade.
VENTURA, Zuenir. 1968 O ANO QUE NÃO TERMINOU. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.
O ano de 1968 representou um momento de rupturas e novas propostas referentes ao comportamento e à política. Foi um ano marcado de manifestações por todo o mundo, em que os jovens tomavam a frente, derrubando antigos dogmas e sacudindo as tradições e o poder. Em “1968 o ano que não terminou”, Zuenir Ventura reconstitui o ano de 68 no Brasil em forma de romance, traduzindo os acontecimentos pelos relatos dos personagens que viveram e participaram dessa época.
O livro é dividido em quatro partes. Em sua primeira parte, subdividida em seis capítulos, conta o comportamento e os acontecimentos primordiais daquela nova geração. Começa relatando o famoso Reveillón de Helô, que é considerado por Zuenir o marco inicial das mudanças que viriam balançar o conturbado ano. Logo no início, ressalta a reorganização do movimento estudantil causado pela nova constituição. A nova geração redefine a mudança no comportamento, à necessidade de liberdade. Liberdade de expressão, por exemplo, com Caetano Veloso nas bancas com Alegria, Alegria. A liberação sexual, o ano em que as pílulas anticoncepcionais começam a fazer parte da vida feminina. Essa nova geração é, de cara, comparada com a de Paris. Entretanto, o fenômeno ocorrido no Brasil é muito mais ampliado. O poder jovem é grande. Suas idéias são baseadas em grandes nomes como Marcuse, Marx, Mao. A leitura excitava a imaginação desses jovens para a revolução e abria uma discussão contra o capitalismo. Porém, a grande discussão baseava-se em como derrubar a ditadura. A linha esquerdista defendia um enfrentamento, enquanto o Partidão acreditava na acumulação de forças. Essa disputa era demonstrada claramente nas manifestações pelos slogans de cada lado. Os estudantes organizavam passeatas contra a ditadura, torciam pela vitória dos vietcong na guerra, politizavam tudo. E acabavam abrindo espaço para a direita se deliciar, dizendo que eles deviam se preocupar mais com as aulas do que com a política, já que os estudantes passavam mais tempo distante das aulas.
Na segunda parte, Ventura mostra outro acontecimento importantíssimo para os fatos decorrentes em 1968: a morte do estudante Edson Luís Lima Souto que mobilizou o Rio de Janeiro. A cidade parou para o enterro do jovem. Houve uma manifestação política, pacífica e inesquecível, que uniu não apenas estudantes, mas várias pessoas que se horrorizaram com o fato. O autor também conta as agitações do governo que havia sido provisoriamente transferido para Porto Alegre e o decreto do AI-5, um pretexto para o golpe dentro do golpe. Nessa mesma parte, relata-se o acontecido na porta da Candelária na missa em homenagem a Edson. Após todos esses eventos, Costa e Silva promete que o Brasil não se transformaria em uma nova Paris. Porém, sua promessa é quebrada nos dias 19, 20 e 21 (quarta, quinta e sexta-feira). Principalmente na “sexta-feira sangrenta”, o dia marcado pelo ataque do povo e dos estudantes a polícia, uma seqüência de batalhas como nunca havia se visto. Na quarta-feira seguinte à Sexta-feira Sangrenta, aconteceu a Passeata dos 100 Mil. Logo ao final do penúltimo capítulo - “Cutucando a onça” - é relatado o convite pelo presidente para uma audiência especial com os estudantes. A verdadeira realização da audiência foi conturbada, já que alguns alunos não trajavam roupas permitidas pelo protocolo. No final das contas, a “comissão dos 100 mil” pôde ser recebida por Costa e Silva. O presidente queria convencê-los de que resolveria todos os problemas e de que seu governo era democrata. Zuenir demonstra de forma brilhante no último capítulo dessa parte o quanto esse tempo de exaltação serviu de laboratório para os órgãos de informação, já que havia sempre alguns seguranças disfarçados nas passeatas.
A terceira parte vai de setembro até o desfecho da crise,
Na última parte do livro, parte IV relata a “Trégua da Rainha”. Foram 10 dias em que a rainha Elisabeth II, da Inglaterra e seu marido, Philip, visitaram o Brasil e as crises foram adiadas até a saída dela do país. Em “A capitulação”, o autor conta a aceitação do pedido para o AI-5, em que o presidente estava decidido a capitular. O esboço virou o AI-5 e o Congresso foi fechado. O AI-5 teve 10 anos de vigência, censurou antes de ser editado e prendeu antes de ser anunciado publicamente. No último capítulo do livro “Nunca mais”, Zuenir Ventura termina declarando: “1968 entrava para a História, senão como exemplo, pelo menos como lição”.
Em seu livro, Zuenir relata como nunca havia sido feito antes o ano de 1968, de uma forma brilhante. Seu mergulho nessa geração demonstra a paixão com que foram à luta. O livro foi feito 20 anos depois. Mas, é possível sentir durante a leitura toda a exaltação daquele ano. Agora, 40 anos mais tarde, o livro, reeditado traz novamente esse sentimento a tona. “1968 o ano que não terminou” é, sem dúvida, o mais importante e fiel relato dos acontecimentos de 68 no Brasil.
Há mais de um mês o Brasil acompanha o caso Isabella pelas retinas da mídia. O Caso não chocou o país apenas por tamanha brutalidade, mas por ter sido a uma criança. Alguns meios de comunicação se aproveitam dessa situação e abusam do sensacionalismo, desrespeitando a família e os amigos que sofrem com a perda da menina. Estão todos atrás do melhor furo, da melhor imagem, da exclusiva entrevista.
Mas, será que em algum momento alguém realmente pensou em Isabella? Pensou na agonia, no sofrimento em que ela passou antes da morte?
Lya Luft em sua coluna Ponto de Vista da revista "Veja" coloca a mente de seus leitores em reflexão: "A menininha atirada no minúsculo jardim de seu edifício, ainda viva, ficou ali por muito mais que três minutos. Imagino sua alminha atônita e assombrada, no escuro. Ainda presa ao corpo, ainda presente. Na loucura que o caso provoca, porque ela poderia ser nossa criança sobre todas as coisas amada, o que mais me atormenta é a sua solidão. Não a vi, em nenhum momento abraçada, levada ao colo por alguém desesperado que tentasse lhe devolver a vida que se esvaía, que a cobrisse de beijos, que a resgatasse de lágrimas, que a carregasse por aí gritando em agonia e pedindo ajuda. O que teria feito a pobre mãe se estivesse presente.”
Pois senão pensou está na hora de pensar, refletir e respeitar sua morte, seus parentes e todo esse sofrimento.